Por Marcus Ronsoni
Uma mudança é fácil e pode ocorrer em apenas um segundo. O problema não reside na mudança. O problema está em como manter os novos comportamentos. Então, talvez a pergunta seja:
Em quanto tempo um novo hábito, atitude ou comportamento se consolida?
Nesse sentido, foram desenvolvidos alguns estudos, desde a década de 50. O primeiro e mais famoso foi o de Max Maxwell, realizado no início da década de 50, publicado em seu livro “Psico-Cibernética”, onde afirma que “requer um mínimo de cerca de 21 dias para uma imagem mental se dissolver e formar uma nova imagem ou hábito”. O número mágico de 21 dias caiu no gosto dos livros de autoajuda e de algumas teorias e metodologias para a mudança e aprimoramento comportamental. Assim, virou lei! Auxiliado pelo fato de se tratar de apenas três semanas, que além de ser fácil é um número de sorte, segundo os numerólogos de plantão.
Vi muitos profissionais com pouca profundidade, e já me inclui entre eles, falando da técnica dos 21 dias, alegando que sua origem era em um ramo da psicologia chamado “psico-cibernética”, que estudava o comportamento humano. Enquanto que não passa do nome de um livro. Destaco, no entanto, que o trabalho do Max Maxwell é um trabalho sério, e que ele não afirmou que eram 21 dias suficientes para a mudança de hábitos. O que ele afirmou é que requer um mínimo de 21 dias. Uma coisa é bem diferente de outra. A primeira refere-se a um ponto de chegada na contagem do tempo. A segunda, a um ponto de partida.
Mais recentemente, estudos de Phillippa Lally e sua equipe, do University College, de Londres, analisaram os hábitos de 96 pessoas durante 12 semanas, obtendo como resposta o tempo de 18 a 254 dias para a consolidação dos hábitos. Novamente, os livros de autoajuda, apoiados pelos jornais e revistas, no afã de promoverem manchetes e vendas, lançaram a notícia de que fora descoberta a realidade sobre o prazo para a mudança de comportamento. Agora são 66 dias! Bastam 66 dias para mudar um hábito! Foram as manchetes de jornais e revistas de todo o mundo, em meados de 2015. Ou seja, saltamos dos 21 para dois meses.
Mas qual o número, afinal? Talvez seja essa a pergunta que você esteja fazendo.
Essa não é uma resposta simples, se interlocutor não deseja se posicionar como um sensacionalista de soluções prontas, estilo receita de bolo, ou do tipo “Os 5 Passos para o Sucesso”. Se desejamos aprofundar, é uma resposta que exige a ponderação de mais elementos. A primeira questão aqui é separar o que é um hábito, o que é um comportamento e o que é uma atitude.
Começamos então pelo hábito. Um hábito é algo que eu acostumei e que automatizei, ao ponto de sentir falta quando não faço do jeito que estou acostumado. Escovar os dentes, tomar banho, dormir de um lado da cama, sentar em um determinado lugar à mesa, colocar a calça utilizando sempre a mesma perna primeiro, consumir certos tipos de alimentos, fazer exercícios físicos, entre outros. Os hábitos são os mais fáceis de trocar. Possuem uma resistência inicial, mas, uma vez vencida, o novo hábito se incorpora.
Nesse sentido, as três semanas propostas por Max Maxwell auxiliam muito. Embora não se possa dizer que elas sejam suficientes para consolidar um hábito, muito provavelmente em 21 dias de práticas diárias de um novo hábito a pessoa já terá saído da zona de resistência e estará na zona de mudança, com um bom avanço na construção e consolidação do novo hábito. Nesse sentido, fica mais fácil a manutenção, mas sempre sem baixar a guarda, para não ter recaídas. A grande questão é como sair da inércia e como se manter durante essas três semanas.
Na sequência, temos os comportamentos. Comportamento é ação. Mas uma ação, por si, só não significa nada. O que nos interessa aqui é investigar qual é o seu motivo. Se a ação é recorrente, qual é o seu motivador. O motivador é que irá nos dizer qual será a abordagem. O motivador pode ser originado na pessoa que pratica a ação, entram aqui os problemas comportamentais, psicológicos, falta de habilidade, entre outros. Pode, ainda, estar no seu entorno, como o clima organizacional, um chefe grosseiro, problemas de saúde de familiares, entre outros, que chamaremos aqui de ambiente. Aqui, não temos como estabelecer nem prazo nem estratégia. Temos é que diagnosticar. Para cada caso teremos uma estratégia diferente e um prazo diferente, com resultados diferentes.
Por fim, temos as atitudes. Atitude é a disposição para fazer algo. A iniciativa é uma atitude, antes de ser um comportamento ou uma ação. Não é um hábito, portanto, não serão as práticas repetidas por três semanas ou dois meses que consolidarão novas atitudes. A atitude não se muda pela repetição. A atitude se muda ampliando a consciência. Isso pode ser instantâneo, a partir de um evento, ou levar uma vida toda. O trabalho do facilitador, educador, mentor, ou qualquer outro profissional, é auxiliar no processo de ampliação da consciência e não de prática de novas atitudes.