A Síndrome da Impostora é um tema cada mais presente nos debates sobre empoderamento feminino. Mas, infelizmente, ela sempre esteve na rotina de muitas pessoas, principalmente mulheres. Inclusive, de acordo com o Journal of Behavioral Science, publicado em 2011, cerca de 70% das pessoas sentirão a Síndrome da Impostora durante a vida.
Entre elas, estão estudantes, lideranças femininas e diversas profissionais, que têm total capacidade e talento para ocupar a posição que ocupam, mas ainda assim, duvidam disso. Neste artigo vamos explicar o conceito da Síndrome da Impostora, como ela afeta a liderança feminina e dar algumas dicas para superar esse problema.
Há 44 anos, em 1978, as pesquisadoras e PhDs Dra. Suzanne Imes e Dra. Pauline Clance, ambas da Universidade do Estado da Geórgia, publicaram o primeiro artigo usando o termo “impostora” para denominar pessoas com atitudes de autoboicote. A pesquisa que deu origem ao artigo avaliou cerca de 150 mulheres bem-sucedidas. Elas tinham grandes títulos acadêmicos, eram profissionais em suas áreas, exerciam liderança feminina ou eram estudantes do ensino superior com um histórico escolar impecável.
“Contrariando realizações acadêmicas e profissionais, mulheres que apresentam o fenômeno do impostor insistem em acreditar que elas não são boas o suficiente e que apenas enganam quem pensa o contrário”, diz o artigo.
Em 1980, a psicóloga Gail Matthews, da Universidade Dominicana da Califórnia, se uniu a Clance para novas pesquisas sobre o fenômeno. Dessa vez, elas descobriram que 80% pessoas bem-sucedidas (mulheres e homens) já vivenciaram a Síndrome do Impostor em algum momento de suas carreiras.
Você já deixou de se candidatar para uma vaga por não preencher 100% dos requisitos? E quando consegue alcançar o sucesso em algo, ao invés de comemorar, você se sente ansiosa e com medo de não conseguir o mesmo resultado novamente? Esses são alguns dos sinais vivenciados por quem sofre do fenômeno, outros sentimentos comuns são:
Acompanhe no vídeo abaixo um Tedx da artista e apresentadora Rafa Brites, onde ela conta a sua própria história e oportunidades que perdeu por não perceber que estava com a Síndrome da Impostora.
Embora o fenômeno também atinja aos homens, diversos estudos apontam que as mulheres são mais afetadas. Isso se deve principalmente à estrutura patriarcal da sociedade, onde elas precisam se esforçar muito mais para alcançar o sucesso. Inclusive, Clance e Imes destacam em suas pesquisas, que a internalização de estereótipos de gênero é um dos agentes geradores da Síndrome da Impostora.
No Brasil, por exemplo, as mulheres só conquistaram o direito de frequentar o ensino superior em 1879. E de lá para cá, segundo o IBGE, elas são 57% dos estudantes nos cursos superiores e 64% dos cursos de pós-graduação. No entanto, um estudo realizado pela Grant Thornton confirma que apenas 38% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres.
Por conta desta disparidade a autocobrança e autocrítica entre mulheres costuma ser mais acentuada. É o que aponta o estudo Women’s Leadership Summit Report, realizado pela KPMG, em que 81% das executivas pesquisadas acreditam colocar mais pressão sobre si mesmas do que os homens, buscando evitar fracassos a qualquer custo. Esta tendência também pode ser relacionada ao fator cansaço. Segundo uma pesquisa realizada pela McKinsey & Company, executivas seniores têm uma probabilidade maior de se sentirem esgotadas, se comparadas a seus colegas homens.
A Síndrome da Impostora em lideranças femininas pode resultar de uma variedade de fatores, incluindo: experiências pessoais, círculo social e familiar, estereótipos e rótulos, cultura corporativa ou dinâmica da força de trabalho.
A presidente da Philips do Brasil, Patricia Frossard, admitiu em uma entrevista que não acreditou quando soube que estava sendo cotada para a vaga. Ela também contou que teve um pouco da Síndrome da Impostora e que acredita que isso acontece com muitas mulheres.
“Nessas situações, os homens não têm dúvida, vão lá e aceitam na hora. As mulheres ficam mais inseguras, pedem tempo para pensar, conversam com o marido, os filhos e, muitas vezes, não aceitam por acharem que não vão conseguir equilibrar a vida pessoal e a profissional”, conta Patricia Frossard.
O estudo da KPMG também destaca que mulheres com alto desempenho profissional são afetadas pela pressão e percepção de serem “a única” ou “a primeira” mulher em seu cargo. O que pode levar a expectativa de atingir a perfeição e nunca falhar.
Para realizar a pesquisa, a KPMG contou com a colaboração de 700 mulheres com vasta experiência em liderança, representando indústrias e empresas da lista Fortune 1000. Até 75% das participantes relatam ter experimentado a Síndrome da Impostora em certos momentos de sua carreira. Além disso, por mais que todas elas tenham alcançado altos cargos de liderança, 62% ainda sentem preocupação em não ser capazes de atender às expectativas culturais de sua empresa. Enquanto 56% disseram temer que as pessoas ao seu redor não acreditem em sua capacidade.
O primeiro passo para superar a Síndrome da Impostora na liderança feminina é reconhecer os sinais e perceber os sentimentos descritos neste artigo. Outro fator interessante é que 72% das executivas entrevistadas pela KPMG recorreram à mentoria quando duvidaram de suas habilidades para assumir novos papéis.
Entrar em contato com grupos de liderança feminina e desenvolver networking com profissionais mulheres no mesmo nível de carreira também pode ajudar. Assim como, dividir seus medos com pessoas de confiança, que te conhecem e irão te incentivar.
Além disso, procure ser mais “livre”, ou seja, não se cobre tanto, nem se compare. E aprenda a comemorar as suas conquistas, elas são suas, você mereceu!
Referências:
The Imposter Phenomenon in High Achieving Women: Dynamics and Therapeutic Intervention
Women in the Workplace 2021 – KPMG
Como a Síndrome da Impostora afeta a liderança feminina
Mulheres no local de trabalho 2021 – McKinsey & Company
“Tive um pouco da síndrome da impostora”, diz presidente da Philips
Síndrome do Impostor – Psicologia PT
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