Na era da inovação, o significado de trabalho deixa de ser “dar expediente”
Uma das fortes tendências na Era da Inovação, chamada de Quarta Revolução Industrial, é a mudança nas relações de trabalho. A começar pelo significado da palavra trabalho, que deixa de ser um lugar onde se “dá expediente” para ser um resultado que se entrega.
Hoje, já é possível ver um movimento crescente de empresas tendo práticas de home office ou, pelo menos, de flexibilização de horário e de local. É claro que isso ainda está restrito a algumas companhias, atividades e cargos, mas, no futuro, muitas profissões não terão mais escritório fixo nem horário preestabelecido.
Essa simples alteração de paradigma terá implicações profundas nas relações de trabalho. Hoje, se um profissional tiver de manter uma rotina de 12 horas, mesmo que o resultado final tenha sido improdutivo, ele receberá por isso. Embolsará, inclusive, remuneração adicional entre 50% e 100% incidentes sobre o valor da hora normal. Porém, em breve, a falta de produtividade será ônus exclusivo do trabalhador, já que o salário virá pelo resultado e não mais pela carga horária. Com isso, a remuneração será variável e premiará os mais talentosos.
Essa é uma tendência que parece irreversível. Atualmente, mais do que um a cada três trabalhadores norte-americanos são freelancers, número que deverá chegar a 40% em até quatro anos. A pesquisa anual sobre tendências globais em capital humano, desenvolvida pela consultoria Deloitte, confirma que a força de trabalho contingente tornou-se global. Segundo o estudo, mais da metade (51%) dos executivos planeja aumentar significativamente a busca por trabalhadores temporários nos próximos três a cinco anos. Apenas 16% dos entrevistados esperam uma diminuição.
O conceito de trabalho está sendo remodelado de forma disruptiva, dando lugar à modalidade gig economy, ou seja, pessoas que ganham a vida trabalhando sem qualquer emprego formal. Elas costumam prestar serviços para mais de uma empresa ao mesmo tempo. Isso será um desafio não só para os trabalhadores, mas também para as próprias organizações, que terão de aprender a gerenciar pessoas autônomas. Essa modalidade não é uma completa novidade. Hoje, quando se contrata um pedreiro para uma reforma, ele normalmente oferece duas modalidades de preço: o pagamento por empreitada, contemplando um valor fechado pelo serviço, ou o pagamento por dia de trabalho. No entanto, a modalidade “por dia de trabalho” também está em desuso por um motivo simples: contratar por empreitada é mais barato e mais eficiente. Essa é a mesma lógica pela qual as organizações estão aproveitando a tendência e implantando tal prática.
A mudança no paradigma do emprego exigirá um novo profissional. Essa maior independência requer alguém que tenha características empreendedoras. Não necessariamente as de um empreendedor franco, aquele com um toque de Midas, mas as de um empreendedor corporativo.
Será considerado um empreendedor corporativo aquele que tem uma boa autogestão, que sabe construir sua marca pessoal, que sabe trabalhar e conduzir times, que tem capacidade de tomar boas decisões em um ambiente de incertezas e, acima de tudo, sabe transformar todas essas competências em um resultado que supere as expectativas. Ele será considerado talentoso e continuará sendo caçado pelas melhores empresas. No entanto, como em todo processo de mudança, muitos tendem a resistir, enquanto poucos se adaptam rapidamente e aproveitam as oportunidades que o novo oferece.