* Por Guilherme Ribenboim
Na semana passada, Jack Dorsey, cofundador e CEO do Twitter, doou 1% de suas ações para serem distribuídas aos funcionários da empresa.
A iniciativa, que, na prática, transforma os funcionários em sócios da companhia, tem sido comum no setor de tecnologia e incentiva o empreendedorismo — um valor fundamental para grupos que têm na capacidade de se reinventar sua condição essencial de sucesso.
Recentemente, em uma entrevista às Páginas Amarelas da “Veja”, o economista americano Edmund Phelps, ganhador do Nobel de Economia em 2006, afirmou que as empresas de setores mais tradicionais estão ficando preguiçosas e defendendo suas participações no mercado com patentes, lobby e afins.
Isso, ressaltou Phelps, gera uma forte desacelaração da produtividade e, por consequência, mais desemprego, salários mais baixos e menor satisfação das pessoas com o trabalho.
Acredito que a iniciativa de doar ações a funcionários observada predominantemente em empresas de tecnologia tenha uma correlação com a dinâmica de transformação do mercado em que essas companhias estão inseridas.
É óbvio dizer que empregados que também são sócios se tornam mais engajados e que isso é fundamental em um ambiente tão competitivo por talento. Mas não acredito que esse seja o único benefício.
Ao transformar funcionários em sócios, cria-se um ambiente mais propício ao empreendedorismo dentro das corporações. E, na indústria de tecnologia, em que novas ideias podem ser fomentadas com poucos recursos, é essencial incentivar o empreendedorismo também nas grandes companhias, para que elas possam competir com as novas empresas que nascem dessas novas ideias.
Por outro lado, a iniciativa de converter funcionários em donos cria um maior alinhamento dos incentivos concedidos dentro das empresas. E, para as lideranças, representa a grande oportunidade de estabelecer conversas mais realistas com seus times.
Transformar funcionários em donos os torna mais responsáveis não somente para apontar os desafios, mas também para trazer soluções à mesa de discussão.
Outro benefício é o incentivo a ambientes de maior transparência das lideranças com suas equipes. Criar e cultivar essa transparência é outro fator importante de produtividade. Diversas pesquisas mostram a relevância da transparência no ambiente de trabalho — principalmente para as gerações de profissionais mais jovens, tão essenciais à evolução e à renovação da estratégia das empresas de tecnologia.
Nesse setor, em que o grau de competitividade é garantido pela retenção dos talentos, é também essencial gerar um “network effect” que possa nutrir o empreendedorismo, as relações realistas e construtivas entre gestores e seus times e, finalmente, a transparência. Transformar funcionários em sócios é parte fundamental para dessa estratégia.
No final das contas, como Tweetou Jack Dorsey quando anunciava à empresa e ao mundo sua decisão: “A empresa pertence a vocês (funcionários) e prefiro ser dono de um percentual menor de algo grande do que grande de algo menor.”
Guilherme Ribenboim, CEO do Twitter no Brasi